Os anos dourados (a década de 1950) registram também a percepção dos jovens e das crianças como importantes segmentos do setor de consumo, portanto, a partir desse período inicia-se uma intensa propaganda por parte de indústrias e setores expressivos do comércio para atingir esse segmento considerável do mercado.
A apropriação pela indústria cultural de ícones como Elvis Presley, James Dean ou Marlon Brando e sua pretensa rebeldia mirava exatamente os muitos dólares que poderiam ser gerados por uma massa de jovens decidida a incorporar o espírito irreverente, audacioso e libertário desses ídolos.
Mas não eram apenas esses os expoentes da radicalização do comportamento jovem nos anos 1950. Surgiam também os beatniks, liderados por escritores como Jack Kerouac e Allen Ginsberg, que resolveram colocar o pé na estrada, escrever sobre suas experiências psicodélicas, sobre sua vida marginal, dormindo ao relento, conhecendo realidades totalmente díspares em relação ao mundo burguês ao qual a maioria dos jovens americanos desse período estavam acostumados.
Eles apenas deram o pontapé inicial para práticas ainda mais radicais, que redundariam no Flower Power dos anos 1960 e seu lema “sexo, drogas e rock and roll”, incorporado ao cotidiano de uma juventude totalmente liberada, adepta do naturismo, do consumo de drogas variadas (como a maconha, a heroína ou a cocaína), da vida em comunidades alternativas e do sexo livre, descompromissado.
É nesse período que os universitários passam a lutar por seus direitos e promovem manifestações, desafiando governos, sistemas educacionais, orientações políticas autoritárias e modelos econômicos que em sua opinião estavam falidos ou então que eram injustos. Na França, no Brasil, nos Estados Unidos e em várias partes do mundo, universidades são fechadas, acampamentos provisórios abrigam os universitários em luta por seus ideais, a polícia é chamada as ruas para intervir e tentar manter a ordem,...
No Brasil, a luta armada passa a ser a opção de muitos desses estudantes, acuados pelo governo com a perseguição ostensiva e a marcação cerrada dos órgãos repressores. O seqüestro de embaixadores ou a Guerrilha do Araguaia são acontecimentos que simbolizam esse envolvimento numa época em que as oposições políticas foram silenciadas pela censura, pelas torturas ou pelo exílio.
Nos festivais da canção surgiam Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Raul Seixas, Geraldo Vandré e tantos outros cantores e compositores que através de suas canções tentavam contestar o regime opressor. Era também a época da rebelde (mas controlada) Jovem Guarda liderada por Roberto Carlos, Wanderléia e Erasmo Carlos.
O papel do jovem era rediscutido diariamente, em várias partes do mundo, não mais pelos adultos e suas instituições (como a escola), mas pela própria juventude, que se tornava cada vez mais protagonista dos acontecimentos que viravam manchetes de jornais, notícias do dia...
Daquela época para cá vimos surgir novos movimentos, alguns ainda incompreendidos, marginalizados, hostilizados pela grande mídia e, por isso mesmo, estigmatizados como violentos. Outros, entretanto, produziram movimentos culturais que se tornaram relevantes e deram status de estrela mesmo a quem não queria tantos holofotes, apesar de seu talento reconhecido, casos de Kurt Cobain (do grupo Nirvana) ou de Sid Vicious (do Sex Pistols).
Cazuza e sua trupe do Barão Vermelho, Renato Russo e o grupo Legião Urbana, Herbert Vianna e os Paralamas do Sucesso no Brasil consolidaram o rock e deram a esse gênero uma roupagem nacional. Falavam do Brasil de forma crítica, demonstravam uma vontade latente de mudar, diziam em nome dessa juventude brasileira aquilo que se buscava com movimentos como as Diretas Já ou, posteriormente, com os Caras pintadas que enxotaram Collor do poder, ou seja, “Brasil mostra a sua cara”...
O professor Paulo Sérgio do Carmo caminha ao longo das páginas de seu livro pelos caminhos alternativos escolhidos pela juventude brasileira e mundial em busca de um espaço para que sua voz, tanto de lamento quanto de confiança e satisfação pudesse ser ouvida (luta que continua ainda hoje, com a utilização de outros expedientes e rotas). Seu livro é recomendado não apenas para as pessoas interessadas num estudo da história e das perspectivas futuras da juventude, mas também de todos aqueles que, em determinado momento de suas vidas, dançaram embalados pelo “Twist and Shout” ou pelo “Dancin’ Days”...
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